Academicos do salgueiro: " Nem melhor, nem pior,apenas uma escola diferente!"
UM MORRO GANHA VIDA...
Princípio do século XX no Rio de Janeiro. As terras de um morro encravado no bairro da Tijuca, que já haviam abrigado lavouras de café e uma fábrica de chita, aos poucos vão se transformando em lugar de moradia para imigrantes e escravos. Muitos se diziam seus donos, mandando e desmandando no local. Mas, mesmo ganhando vida, aquele morro ainda era um lugar sem nome. Isto perdurou até a chegada do português Domingos Alves Salgueiro.
Comerciante e dono de uma fábrica de conservas na Rua dos Araújos, na Tijuca, Domingos era também proprietário de 30 barracos no local. Logo o português virou referência e designação do morro, que passou a ser conhecido como morro do "seu Salgueiro". Isso bastou para dar a fama ao local e batizar o morro como o Morro do Salgueiro.
Aos poucos, o Morro do Salgueiro começou a ser procurado por famílias de Minas Gerais, interior do estado do Rio de Janeiro, sul da Bahia e Nordeste. São essas pessoas que começam a dar vida ao morro, construindo casas, barracos e transformando a pedra bruta e inanimada em um lugar de moradia.
Atraídos pela fama do lugar, outros moradores vão chegando. São novos imigrantes, que, ao lado de seus conterrâneos passam a construir mais e mais barracos. Às casas que ali estavam, juntaram-se novos lares, sempre levantados em regime de mutirão. A proximidade de todos ia transformando o Morro do Salgueiro em uma grande família, uma festa de convívio social.
Aos poucos os moradores foram modificando a história e a geografia do morro, dando nomes às suas ruas, vielas e "bairros", cantos e recantos de um morro que ia ganhando vida e cotidiano. E assim surgiram o Sossego (local mais sossegado), o Campo (devido ao campo de futebol) e o Pedacinho do Céu (por ser a parte mais alta, onde os barracos ficam mais isolados do mundo). Tinha também o Canto do Vovô, Sunga, Caminho Largo, Trapicheiro, Portugal Pequeno, Sempre Tem, Anjo da Guarda, Terreirão, Grota, Rua Cinco, Carvalho da Cruz e Buate.
De suma importância para o dia-a-dia do morro foram as famosas tendinhas, locais onde se compravam os gêneros de necessidade urgente, como o quilo de feijão ou de açúcar. Algumas ganharam fama, como a de seu Neca da Baiana, de Ana Bororó, de Casemiro Calça Larga ou de Anacleto Português, entre outras. As tendinhas iam se transformando no ponto de encontro dos moradores e locais de discussão sobre política, futebol e samba. E, entre um gole e outro de cerveja e cachaça, de incontáveis parcerias musicais.
De seus locais de origem, os moradores do Salgueiro trouxeram novas culturas, hábitos e costumes que foram se incorporando ao dia-a-dia de todos os habitantes do morro. Carimbó, Folia de Reis, Calango, Jongo e Samba de Roda eram cantados e dançados em datas folclóricas dos imigrantes e passaram a ser apreciados também nas festas do morro, fossem da cumeeira, casamentos ou aniversários, sempre acompanhados de cozidos, mocotós, peixadas e feijoadas.
Em meio às manifestações folclóricas, o Caxambu, dança vinda do interior de Minas Gerais e do estado do Rio de Janeiro (Santo Antonio de Pádua, Itacoara, Cantagalo, Cambuci e Sta. Maria Madalena), se destacou e se tornou a principal manifestação folclórica absorvida pelos moradores, já conhecidos pelo gentílico de "salgueirenses".
Pouco a pouco o morro do Salgueiro ia ganhando também uma vida social. E três lugares foram fundamentais para a recreação dos moradores: o Grêmio Recreativo Cultivista Dominó, O Grêmio Recreativo Sport Club Azul e Branco e o chamado Cabaré do Calça Larga. Nos bailes, com música ao vivo, os rapazes de terno engomado, sapato bico fino e salto carrapeta desfilavam pelo salão, apreciando as moças com suas roupas de organdi, seda e tafetá, sapatos altos e perfume de leite de rosas.
Por conta das diversas influências, a diversidade religiosa também se manifestou no Salgueiro. Na subida do morro, o Cruzeiro passou a ser um local para os agradecimentos, com velas acesas para as Almas Benditas, flores e ex-votos de promessas a pagar. Os terreiros de Umbanda e Candomblé também faziam parte da religiosidade do morro. Neles, às segundas e sextas-feiras, os toques dos atabaques, o bater de palmas e o coro, que entoava pontos em ioruba e português, saudavam orixás e caboclos. Um dos primeiros terreiros do morro foi o de Seu Oscar Monteiro, no Pedacinho do Céu, que, ao lado da Tenda Espírita Divino Espírito Santo, de Paulino de Oliveira, foi um dos mais famosos terreiros do Salgueiro.
O morro abrigou ainda diversas benzedeiras, como Dona Helena Correia da Silva, uma das mais conhecidas do local. Graças às garrafadas curadoras, banhos de limpeza, rezas localizadas, as benzedeiras do Salgueiro ganharam fama que se espalhou por toda a Tijuca.
Em janeiro, o dia 20 passou a ser especial para os moradores do Salgueiro. É nesta data que, até hoje, flores e velas se espalham pelo morro para a festa em homenagem ao padroeiro do Salgueiro, São Sebastião, cujas cores são o vermelho e o branco. O Campo se transforma num arraial, enfeitado com barraquinhas e bandeirolas para a festa. A diversidade religiosa do Salgueiro permite ainda que o morro abrigue outro padroeiro e protetor: Xangô, orixá do Candomblé, também de cores vermelho e branco e também reverenciado no dia 20 de janeiro, quando, à noite, diante dos pegis e dos gongás, o senhor das pedreiras recebe as homenagens de seus afilhados do Salgueiro.
A luta social também faz parte da história do morro do Salgueiro. Foi lá que surgiu a primeira associação de moradores do Rio de Janeiro, no início de 1934, quando os habitantes do morro foram ameaçados de despejo. Liderados pelo sambista Antenor Gargalhada, os salgueirenses saíram vitoriosos na batalha jurídica e continuaram a conviver pacificamente no morro do Salgueiro, fazendo suas festas, suas músicas e seus sambas.
Fundação
... E DE SAMBA EM SAMBA, NASCE A ACADEMIA
Desde o surgimento de um cotidiano no morro do Salgueiro, os moradores já mostravam sua musicalidade e tinham muito orgulho dos sambas que compunham. Era uma vida marcada pela altura do morro de pedra ainda bruta, mas com uma vista privilegiada da cidade. Um mar de luzes que virou inspiração para a criação de sambas na volta do trabalho.
Carnavalesco por natureza, o morro chegou a abrigar mais de dez blocos, entre eles o Capricho do Salgueiro, Flor dos Camiseiros, Terreiro Grande, Príncipe da Floresta, Pedra Lisa, Unidos da Grota e Voz do Salgueiro. Todos com um grande número de componentes que desciam do morro para brincar na Praça Saenz Peña e nas famosas batalhas de confete da Rua Dona Zulmira, onde o Salgueiro era respeitado pelo talento de seus compositores e mostrava a todos que já era uma verdadeira academia de samba. Era lá em cima, no morro do Salgueiro que, ainda nos anos 30, Dona Alice Maria de Lourdes do Nascimento, conhecida com Dona Alice da Tendinha, passou a organizar um corpo de jurados para premiar os blocos que desfilavam no morro. A cada ano o desfile ficava mais animado e reunia moradores de outros morros e bairros, atraídos pela qualidade dos sambas feitos no Salgueiro.
Da fragmentação do samba do morro em vários blocos surgiu a união e nasceram três escolas de samba no Salgueiro: Unidos do Salgueiro, de cores azul e rosa, a Azul e Branco e a alviverde Depois Eu Digo.
A escola de samba Azul e Branco teve como figuras principais Antenor Gargalhada, o português Eduardo Teixeira, e o italiano Paolino Santoro, o Italianinho do Salgueiro. A ala de baianas da escola era uma das maiores da cidade e abrigava personagens como as jovens Maria Romana, Neném do Buzunga, Zezé e Doninha.
A Unidos do Salgueiro foi formada pela união de dois dos mais importantes blocos do morro: Capricho do Salgueiro e Terreiro Grande. A figura dominante da escola era Joaquim Casemiro, mais conhecido como Calça Larga. Líder no morro e bem articulado politicamente, Calça Larga organizava as rodas de samba, passeios, piqueniques em Paquetá e tudo o que fosse possível para unir a comunidade do morro.
Reunindo um grupo de sambistas talentosos, a Depois Eu Digo se transformou em escola de samba em 1934 e abrigava em suas fileiras nomes como Pedro Ceciliano, o Peru, Paulino de Oliveira, Mané Macaco, entre outros.
Nas três escolas iam surgindo talentosos compositores, verdadeiros gênios musicais, como Geraldo Babão, Guará, Iracy Serra, Noel Rosa de Oliveira, Duduca, Geraldo, Abelardo, Bala, Anescarzinho, Antenor Gargalhada e Djalma Sabiá. Homens que enriqueceram o cenário musical brasileiro e construíram uma obra original para as escolas de samba do morro. Foram as canções inspiradas desses bambas que fizeram com que o Salgueiro passasse a ser respeitado por todas as demais escolas de samba.
Mesmo com a qualidade de seus compositores, o Salgueiro, com suas três escolas, não conseguia ameaçar o predomínio das maiores escolas de então - Mangueira, Portela e Império Serrano. Os sambistas de outros morros respeitavam os salgueirenses e citavam seus compositores, passistas e batuqueiros como o que havia de melhor no mundo samba. Mas, nos desfiles da Praça XI ... nada acontecia.
No desfile de 1953 não foi diferente e a melhor escola do morro foi a Unidos do Salgueiro, que ficou em sexto lugar. Logo após o resultado, muitos sambistas começaram a se colocar contra a divisão de forças no morro. Foi então que, no sábado, Geraldo Babão desceu o morro cantando a união das três escolas:
"Vamos balançar a roseira,
Dar um susto na Portela, no Império, na Mangueira.
Se houver opinião, o Salgueiro apresenta uma só união,
Vamos apresentar um ritmo de bateria
Pro povo nos classificar em bacharel,
Bacharel em harmonia.
Na roda de gente bamba,
Freqüentadores do samba
Vão conhecer o Salgueiro
Como primeiro em melodia.
A cidade exclamará em voz alta:
- Chegou, chegou a Academia!".
Componentes e baterias das três escolas se juntaram somando cores e bandeiras e arrastando o povo para a Praça Saenz Peña. Foi o estopim para a fusão. Depois de algumas reuniões em que foram decididos o nome e as cores da nova escola do morro, em 5 de março de 1953, os componentes da Depois Eu Digo e da Azul e Branco se uniram fundaram o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, com as cores vermelho e branco, uma combinação que já era a quebra de um tabu, uma vez que, naquela época todos achavam que "crioulo com roupa vermelha parecia o demônio". A Unidos do Salgueiro desapareceu anos depois e seus integrantes se juntaram aos Acadêmicos do Salgueiro.
Era o nascimento de uma escola que não seria nem a melhor, nem a pior, mas apenas uma escola diferente.
Samba enredo 2009
Autores - Moisés Santiago, Paulo Shell, Leandro Costa e Tatiana Leite
Intérprete - Quinho
O som do meu tambor ecoa, ecoa pelo ar
E faz meu coração com emoção pulsar!
Invade a alma, alucina
É vida, força e vibração!
Vai meu Salgueiro... Salgueiro
Esquenta o couro da paixão
Ressoou da natureza, primitiva comunicação
Da África, dos nossos ancestrais,
Dos deuses, nos toques rituais
Nas civilizações, cultura
Arte, mito, crença e cura!
Tem batuque, tem magia, tem axé!
O poder que contagia quem tem fé!
Na ginga do corpo, emana alegria
Desperta toda energia
No folclore, a herança
No canto, na dança, é festa, é popular
Seu ritmo encanta, envolve, levanta...
E o povo quer dançar!
É de lata, é da comunidade
Batidas que fascinam
Esperança social, transforma, ensina!
Ao mundo deu um toque especial
É show, é samba, é carnaval!
Vem no tambor da Academia
Que a Furiosa bateria vai te arrepiar!
Repique, tamborim, surdo, caixa e pandeiro
Salve o Mestre do Salgueiro
Bom pessoal foi apenas isso q eu achei!Se vcs quiserem saber mas da escola entre no site : http://salgueiro.com.br
Biins!!! Gi!!